No inicio do século passado, o transporte de
cargas e passageiros entre Mossoró e Areia Branca, era feito através de botes e
lanchas de Areia Branca ate o porto de Santo Antonio, e de lá em transporte
terrestre ate Mossoró. E na volta, traziam também cargas e passageiros.
Com a inauguração do trecho da ferrovia Porto
Franco x Mossoró, complemento da ferrovia Mossoró x Souza em 1915, a cidade
passou a viver nova era no transporte marítimo, que aos poucos acabou com o
trecho Areia Branca x Porto de Santo Antonio, devido à rapidez e comodidade do
novo ponto de entrada e saída de cargas e passageiros.
Aí, entraram as “lanchas de Luiz Cirilo”.
Inicialmente, seu Luiz Cirilo adquiriu a lancha IDA para fazer o transporte de passageiros
entre Areia Branca e Porto Franco. Com o passar do tempo, esta lancha não
comportava mais o fluxo de passageiros que aumentava gradativamente. Foi quando
ele comprou a SANTA IZABEL, uma lancha de maior porte que atendia a demanda de
passageiros, e que passou a executar o serviço da Ida, ou seja, fazer suas duas
viagens diárias a Porto Franco. Na parte da manhã, levando os passageiros que
iam de trem para Mossoró, e na parte da tarde, trazendo os que de lá voltavam.
O trem partia para Mossoró as terças, quintas e sábados na parte da manhã. E as
segundas, quartas e sextas, retornava a Porto Franco na parte da tarde
NA FOTO ACIMA, A
SANTA IZABEL PRONTA PARA ZARPAR PARA PORTO FRANCO, E JÁ HAVIA PESSOAS A ESPERA
DO RETORNO DA MESMA.
Ficou a IDA para viagens eventuais, como por
exemplo, quando alguém necessitava de ir ou vim de Mossoró, em outro tipo de
transporte que não fosse o trem. Nestes casos geralmente era de carro. Como
naquela época como não havia comunicação telefônica entre Porto Franco e Areia
Branca, usavam-se a comunicação visual. Essa comunicação visual durante o dia
consistia em um mastro que foi colocado em Porto Franco acima da linha
divisória do manguezal, onde no topo do mesmo era içada uma bandeira vermelha.
E a noite, o carro ficava posicionado para Areia Branca, acendia e apagava
continuadamente os faróis. Quando isto acontecia, lá ia a Ida cumprir sua
missão. Os freqüentadores da beira do cais estavam tão habituados com esses
sinais, que caso divisasse a bandeira ou os faróis do carro, e a Ida não se
movimentasse, era sinal de que seu Luiz não havia visto, e iam ate a casa do
mesmo avisá-lo.
Nos dias de chegada do trem, sempre havia uma
movimentação de pessoas no Tirol. Uns, aguardando a chegada de alguns
familiares ou amigos. Outros apenas por curiosidade para checar a chegada de
algum visitante desconhecido. E tinha aqueles que iam apenas se certificar da
chegada de alguma “novata” de Mossoró, para o cabaré de Marina ou Beata. O
termo “novata”, nada tinha a ver com a idade constante no registro de
nascimento. Bastava apenas nunca ter freqüentado essas duas casas ou outras
existentes em Areia Branca. Ai então havia a disputa dos “bons bolsos”, para
ver de quem era a primazia de receber primeiro os carinhos (bem pagos) das
“novatas”, pois o que se comentava em Mossoró, é que marítimos e estivadores,
ganhavam “rios de dinheiro”. Algumas vezes, vinham três ou quatro “novatas”.
Posteriormente, a estrada carroçável ligando
Areia Branca a Mossoró, abalou o sistema de passageiro pelo trem, e
conseqüentemente as lanchas foram atingidas. Mesmo no período chuvoso em que a
estrada se tornava quase intransitável, essa diminuição era visível. Quando saí
de Areia Branca em 1964, as lanchas ainda estavam em função, apesar da
precariedade. Posteriormente com a construção da BR 110, uma rodovia federal,
que foi projetada para ligar Areia Branca ao Seridó, pois fim a movimentação de
Porto Franco, não só de carga como de passageiros, e como não poderia deixar de
ser, as lanchas de Luiz Cirilo também. Infelizmente o progresso, sempre nos
deixa estas amargas lembranças.
areiabranca.wordpress.com
SITE – ERA UMA VEZ AREIA BRANCA
Porto Franco, anos 1960 (Foto Antônio do Vale)